Sabe, senhor, ainda não entendi, viemos à praça, pensei ser um passeio, estranhei, ele não tinha esse hábito, mas fui, feliz. Lá chegando, me deu as costas, entrou no carro e nem me disse adeus. Olhei para os lados, nem sabia o que fazer. Ainda tentei segui-lo, quase fui atropelado. Que teria feito eu de tão mau? À noite, quando ele chegava, abanava o rabo, feliz mesmo que ele nunca viesse no quintal me ver. Às vezes, eu latia, mas tinha estranhos no portão, não poderia deixá-los entrar sem avisar meu dono. Quem sabe foi minha dona que mandou, devia estar dando trabalho. Mas não as crianças, elas me adoravam. Como sinto saudades! Puxavam-me a cauda às vezes eu ficava uma fera, mas logo éramos amigos novamente. Creio que elas nem sabem, devem ter dito que fugi. Estou faminto, só bebo água suja, meus pelos caíram quase todos, nossa, como estou magro! Sabe, Pai, aqui nesse canto que arrumei para passar a noite, faz muito frio, o chão está molhado. Creio que, hoje, vou me encontrar contigo, ai no céu meu sofrimento vai terminar, mesmo em espírito vou ter permissão para ver as crianças. Peço-vos, então, não mais por mim, mas pelos meus irmãozinhos: Mandem-lhes pessoas que deles tenha compaixão, como eu, sozinhos não viverão mais que alguns meses na terra do homem. Amenize-lhes o frio, igual o que agora sinto, com o calor de atos de pessoas abençoadas. Diminua-lhes a fome, tal qual a eu sinto, com o alimento do amor que me foi negado. Mata-lhes a sede, com a água pura de seus ensinamentos transmitidos ao homem. Elimine a dor das doenças, estripando a ignorância da terra. Tire o sofrimento dos que estão sendo sacrificados em atos apregoados como religiosos, laboratórios e tudo mais. Tirando das mãos humanas o gosto pelo sangue. Ampare as cachorrinhas prenhas eu verão suas crias morrerem de fome, frio e pestes sem nada poderem fazer. Abrande a tristeza dos que, como eu, foram abandonados, pois, entre todos os males o que mais me doeu foi esse. Receba, Pai, nesta noite gélida, a minha alma, pois não mais será meu sofrimento, mas dos que ficarem e por eles vos peço.
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Minha força está na solidão.
Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.
(Clarice Lispector)
(Clarice Lispector)
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Enigma eterno.
Eu não sou alguém perfeito, existem muitas coisas que eu gostaria de não ter feito. Mas eu nunca desisto de aprender. Eu acho que tudo o que eu faço de errado, eu faço sem perceber, então eu preciso dizer antes que seja tarde demais. Eu sempre fui assim, não encontro cura alguma pra esse meu modo de agir. Mas quando você apareceu, foi como se tudo que eu sentisse tivesse encontrado uma cura. Você sabe bem do que eu estou falando? Não consigo descrever exatamente como acontece, é tudo muito estranho, e inexplicável ao mesmo tempo. Você sabe bem do que eu estou falando? Se meu comportamento é brusco ou intolerável, tente entender, eu tenho motivos. Eu acho que encontrei uma razão para mim, pra mudar quem eu costumava ser, e essa razão, acho que é você. É, como eu disse, ou digo sempre, sou ruim com palavras, então, espero que entenda. Não sei como me tira do sério tão fácil, esse seu jeito se tornou um enigma, um quebra cabeça, não sei como entender, mas sei que quero desvendá-lo.
Assinar:
Postagens (Atom)